Divas #1: Clara Nunes

Hoje acordei nostálgica.
Desde que resolvi me aventurar nessa coisa de cantar, vivo invadida por música, melodias, harmonias e vozes... O pensamento permeado por elas: minhas divas cantoras.
Mulheres lindas, talentosas e que despertam minha mais profunda admiração, desde que me entendo por gente, quem sabe até antes...Resolvi então, que elas merecem seu espaço aqui nos meus diários, além todo amor que lhes dedico.
A primeira foi a mim apresentada por minha querida Mãezinha, nos tempos em que sábado era dia de faxina, embalada por uma antiga fita K7 que nos trazia a luz de Clara Nunes. A "mineira guerreira, filha de Ogum com Iansã", morreu antes mesmo que eu nascesse, infelizmente, mas está presente até hoje em minha vida.

Desde que ouvia as histórias de Clara, contadas por minha mãe, sentia uma ligação, uma identificação tão grande por ela que é até difícil de explicar. Eu gostava de pensar que éramos primas distantes - por causa do sobrenome em comum. Ao longo dos anos e quando li sua biografia, percebi que não só o Nunes e mineiridade são partilhados por nós duas.

Clara Francisca veio de família pobre, do interior de Minas. Quando adolescente foi morar em Belo Horizonte, onde trabalhou como tecelã, até ganhar o primeiro concurso como cantora. Eu, assim como ela, deixei também minha cidade e fui pra capital em busca de um sonho. Trabalhei muito (não como tecelã, claro) até começar minha carreira de atriz. Ela, de lá, veio para Rio de Janeiro, morar em Copacabana. É justamente onde estou agora.

Clara era espírita kardecista desde os 14 anos, depois passou a frequentar a umbanda e o candomblé. Eu? Kardecista desde sempre.
O amor pela Portela, pela música brasileira (inclusive regional), o sorriso sincero e escancarado no rosto, a imensa vontade de ser mãe, o sonho de fazer sucesso como artista... Tudo isso há em mim e havia em Clara.

Porém, diferente dela, eu não nasci com o grandioso dom de cantar como um sabiá.
Sua voz conquistou o país inteiro, junto com seu carisma, sua garra, a maneira alegre e pura de se apresentar, dosando força e sensibilidade na medida certa. Foi a primeira mulher a bater recordes de vendagem de discos, numa época em que diziam que cantoras não vendiam LPs. Lutava pelo que acreditava, com unhas e dentes. Defendia o povo e as três raças, cantando o nosso folclore e cultura aos quantro cantos desse país.


Nas fases mais sofridas da minha vida, em momentos de tristeza e angústia, eu a ouço cantar. Muitas vezes isso faz com que venham logo as lágrimas, mas traz também a força e a coragem necessárias para enfrentar o que quer que seja e seguir na luta. E, quando estou feliz, também ouço Clara, canto junto, danço e rio. Ela é um exemplo, uma das minha heroínas. Como uma "amiga invisível", me acolhe, acalenta, apoia. Me diz, com sua história, que é possível realizar os sonhos, transformar a realidade... Vencer. Com delicadeza e suavidade, levando a luz pra onde for, clareando!

        "Um dia
         Um ser de luz nasceu
         Numa cidade do interior
         E o menino Deus lhe abençoou
         De manto branco ao se batizar
         Se transformou num sabiá
        Dona dos versos de um trovador
        E a rainha do seu lugar

        Sua voz então a se espalhar
        Corria chão
        Cruzava o mar
        Levada pelo ar
        Onde chegava espantava a dor

        Com a força do seu cantar


Mas aconteceu um dia
Foi que o menino Deus chamou
E ela se foi pra cantar
Para além do luar
Onde moram as estrelas
E a gente fica a lembrar
Vendo o céu clarear
Na esperança de vê-la, sabiá

Sabiá
Que falta faz sua alegria
Sem você, meu canto agora é só
Melâncolia

Canta meu sabiá,
Voa meu sabiá,
Adeus meu sabiá...
Até um dia..."
Música: "Um Ser de Luz" - João Nogueira e Paulo César Pinheiro

Comentários

  1. Que emoção o seu texto me trouxe..a saudade da nossa sabiá veio a tona e as lágrimas correm pelo canto dos meus olhos...sei que ela, onde estiver agora, está feliz com sua homenagem linda. Fico feliz de ter te mostrado o talento da Clara que vc não alcançou por ter nascido depois da sua partida e ter te transmitido a admiração que tenho por ela.Parabéns por mais um texto lindo! Bjs!!

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  2. Só tenho a agradecer a herança preciosa que você me transmitiu a vida inteira mãezinha.
    Beijo grande

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  3. Samyta,

    Seu texto tem sensiblidade e traz em si uma ternura imensa. Que Deus continue a lhe abençoar a existência. Um grande abraço. Tereza Nogueira

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