Transtorno Pseudo Mórbido


Querido Diário,

Há quanto tempo não te chamo assim, não é mesmo?! Deve ter o quê, uns 10, 12 anos...? Não importa. Você sabe que sempre vai ser o meu "querido diário", até quando eu estiver velha e caquética, tendo que pedir alguém pra digitar pra mim, ou transcrever em sei lá qual tecnologia existente na época.
Espero sinceramente que lá nesse futuro não tão distante eu tenha coisas melhores para te contar do que essas de hoje. Bom, pelo menos eu não vou estar na TPM - como é o caso agora - isso é fato. Nesses dias eu fico assim, rabugenta e chata. Sinto uma ausência e uma vontade de não-sei-o-quê que me angustia. Nada pra mim está bom. Choro assistindo a qualquer comercial de margarina que passa na TV, acho minha vida uma merda. Me sinto tão sozinha e abandonada... Questiono minhas escolhas. Me irrito por coisa à toa. tenho vontade de bater em alguém. Essas coisinhas que toda mulher sente.
Agora mesmo, tô eu aqui, chorando que nem uma retardada. Pensando em tudo que deixei para trás nesses anos todos, as pessoas que amo tanto e abandonei por um sonho egoísta.
Qual o sentido disso tudo?
Onde está a glória e a felicidade que venho buscando a vida toda? Elas existem?

De uma hora pra outra, tudo me foi tirado. Tudo, que na verdade não era nada: um emprego que eu não gostava e que me trazia uma falsa estabilidade financeira, garantindo minha zona de conforto. Mas é claro que, com ele, lá se foi mais um pedaço da minha paz. Outra parte dela está lá longe, com aquele que eu ainda nem faz parte da minha vida de fato e talvez nunca faça, mas que persiste nos meus pensamentos como uma promessa de algo bom, de afeto e quem sabe até... Amor. A contagem regressiva imbecil segue diariamente ressoando em minha cabeça cheia de dúvidas. "Um dia de cada vez", ele disse. E os dias vão passando um a um, cansativos, pesados, torturantes. Sem notícias de lá. A distância parece muito maior do que o tempo e o espaço. Ele, além de longe, está frio. Então eu me rodeio de perguntas inúteis e aterrorizantes, sem saber o que acontece, como está sua cabeça, seus pensamentos e vontades. Será que vai me procurar quando voltar? E se o fizer, vai ser para o bem ou para o mal?! O mais terrível é minha impotência. Não há nada o que eu possa fazer e, mesmo que houvesse, acho que não adiantaria.

Ontem eu sonhei com ela, outra vez. A culpa.
Como sempre, me aparece linda, vestida de branco, descalça e com longos cabelos negros. Me lembra a mim mesma, quando tinha mais ou menos 18 anos, só que muito mais bonita e radiante. 
Sim, como sempre, ela vem atrás de mim e eu, numa corrida avassaladora tento fugir, me esconder, ignorá-la... Tento de todas as formas me afastar dela, que segue plácida e impassível atrás de mim, pois sabe que mais cedo ou mais tarde irá me alcançar. É nesse momento que ela me pergunta: por que?!
Eu não sei. Não faço a mais remota idéia... Não sei, não sei, NÃO SEI! 
Mas suas palavras reverberam em ecos intermináveis: ( ( ( Por que?) ) )

Tenho a sensação de que quando eu descobrir a resposta, tudo vai ser diferente. Talvez esses dias de tristeza tenham ficado lá no passado, nesses anos de luta e de busca interminável. De solidão, insegurança, desamparo e medo. Quando eu tiver a resposta, talvez eu seja feliz. Ou talvez não, eu só tenha desistido de me justificar e decidido que não devo satisfações a ela, que se dane.

Querido diário, não se preocupe comigo ao receber um registro tão duro e desesperado. Afinal, já houve tantos piores, lembra?! Você sabe que minhas brincadeiras em relação ao cianureto não tem nenhum fundo de verdade e já já estarei aqui outra vez, contando momentos alegres, leves, cheia de esperanças. Você sabe que eu sou feito criança, que não aprende com as quedas e continua subindo no escorregador. Você sabe que eu choro fácil mas tenho aquelas crises de riso intermináveis, também por qualquer bobagem ou idiotice.
Você me conhece melhor do que todo mundo... Melhor do que eu. E já dever estar acostumado com a montanha-russa emocional que é minha vida. Eu nem grito mais nos loopings, reparou? 
É isso aí, meu amigo, logo será hora de subir novamente... Ou pelo menos assim espero.
Fique tranquilo, não me esquecerei de você, nem te privarei dos meus registros.
Até a próxima vez.
Com carinho,
S.

Comentários

  1. eu tenho isso todo mês amiga...kkk. esquenta nao. Essa é a vida. Vida que segue. Bjuuu
    Stéfani

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