Uma carta de amor platônico

Domingo, 22 de Outubro de 2006.
Mr. Z,

Engraçado eu ter te dito que tenho mais facilidade para escrever as coisas e estar agora há meia hora na frente do computador sem conseguir escrever uma linha... 
É que eu quero dizer tanta coisa que fica difícil organizar as idéias. Vou fazer de conta que estou escrevendo no meu diário, fica mais fácil, ok?!
Essa é nossa história. Ou melhor, a minha estória contigo.

Uma vez, fui à uma festa na casa de um amigo de "primo" meu. Esse era um primo emprestado, por isso está aqui entre aspas. Naquela época eu estava meio deprimida, porque tinha tomado um pé do meu ex-namorado, mas fui porque precisava espairecer, conhecer gente nova, dançar. Foi lá que vi um casal dançando algo de um jeito que eu nunca tinha visto na vida. Era envolvente, era mágico... Era o zouk.


Não tive coragem nem de falar com eles, fiquei ali só olhando e pensei que um dia eu ainda dançaria daquele jeito. Meu primo me falou que aquele casal já tinha tido uma estória juntos, um namoro longo de alguns anos e aí entendi que não era só a dança que fazia aquela cena ser tão perfeita.
O tempo foi passando, eu tive um pouco de contato com aquele homem que dançava tão envolvente. Fiz
umas aulas em sua escola de dança. O engraçado disso é que sempre me disseram coisas não muito boas a seu respeito, coisas que não vêm ao caso e que nas quais nunca acreditei, pois ele sempre me tratou da melhor maneira possível, educado, simpático, atencioso, agradável mesmo. Um gentleman.
 Às vezes, quando me estendia a mão e me tirava para dançar, eu ficava muito tensa, fechava os olhos e fazia um esforço enorme pra não errar nenhum passo. Mas é claro que acabava errando em algum momento, olhava para o rosto dele, vermelha de vergonha, e via um riso maroto no canto da sua boca, daqueles que quando a gente vê não sabe o que pensar... 
Mr. Z nunca me chamou pelo meu nome de verdade. Me deu um nome diferente, só dele, e eu gostava disso. Acontece que eu não pude continuar nas aulas e perdi o contato com meu primo que era quem mais me acompanhava nas festas de zouk. Por outro lado, comecei a frequentar um samba e me apaixonei! Minhas amigas iam comigo, então o professor de dança foi caindo um pouco no esquecimento. É como dizem: "o que os olhos não vêem, o coração não sente". 
Até o dia em que ele foi assistir meu espetáculo, assim, de surpresa. Jamais imaginei ele fosse me ver da plateia um dia! Quando olhei pelo buraquinho da cochia, vi que ele chegou com uma mulher. Bonita, é claro... Mas não liguei, o importante é que Mr. Z estava lá pra me ver!!! 
Foi uma das melhores atuações que já fiz e, no fim da peça, fiquei esperando pelo abraço e cumprimentos... Só que ele não estava mais lá. Tinha deixado uma mensagem no meu celular, que eu guardei por meses. Dizia: "você estava maravilhosa". Me senti  como se eu fosse a mulher maravilha. Poderosa, linda, inimaginavelmente autoconfiante!
Mesmo assim, continuei indo no meu samba todos os domingos, conheci alguns caras, uns legais, outros
calhordas (a maioria), namorei, terminei, fiquei sozinha... Segui a vida. 
Mas eis que um dia, Mr. Z aparece no samba. No meu samba. Dá pra acreditar?! Eu também não acreditava... 
Foi então que pensei: vou voltar a fazer aulas na escola de dança, isso é um sinal, preciso ficar perto dele.
Na época eu ensaiava um espetáculo novo e assim que estreei fui lá, me matriculei numa turma nova e comecei a apostar minhas fichas.
Eu jurava que dançando, conquistaria Mr. Z...
Me preparava pra cada aula, fomos ficando mais próximos, só que mais distante ao mesmo tempo, não
sei se dá pra entender, eu mesma às vezes não entendo.
A verdade é que eu passei a ir à escola quase todos os dias (principalmente depois que ele foi ver meu novo
espetáculo e me chamou pra sair e tomar uma cerveja), e foi aí que comecei a conhecer o Mr. Z de verdade, um cara que até então era um mito, um personagem de uma revista em quadrinhos, ou algo do tipo. Nós conversamos muito e quanto mais a gente conversava, mais eu via o quanto nossas ideias eram parecidas e como eu gostava de ouvir o que ele falava!
Uma vez, me deu uma carona até em casa. Nessa noite fantasiei, esperava que fosse como nos filmes: a
cena da mocinha na porta de casa com o galã. E aí, fica aquele silêncio... Então os dois se olham nos olhos, se aproximam e... Corta!!! 
Eu vivia um amor-cortês e platônico.
Seria lindo se tivesse sido como eu esperava, mas nada demais aconteceu. De qualquer forma, me diverti bastante. Os dias foram passando e era um telefonema aqui, uma peça de teatro ali, outras caronas... Ele me fazia tão bem, que às vezes dava pra esquecer que a gente era só amigo. Parecia que em alguns momentos éramos um casal, daqueles de verdade. Excluindo o fato de que nunca nos beijávamos nem nada parecido...
De vez em quando eu me cansava daquilo, principalmente da expectativa, da angústia, de achar que todo dia podia ser o dia, aquele dia. Pedi até conselho pra uma amiga que é psicóloga, achei que estava ficando louca, viajando muito na estória toda, que não tinha nada a ver, que ele só me via como amiga e mais nada... Só que aí, ele aparece e me liga às 3h da manhã, me chamando pra tomar uma cerveja, dança comigo um xote coladinho, de madrugada, no meio da rua... Então lá vou eu de volta pro conto de fadas e... Corta de novo!!! Mr. Z me diz: "Se você não fosse minha aluna..." 
Baita balde de água fria. Minha vontade era sumir naquele instante, esquecer escola, aula, dança, professor.. tudo! Mas, quem disse que consegui?! Encarei isso como uma forma educada que ele encontrou pra dizer "olha não tô afim de você, menina". Ainda assim não foi possível sentir raiva, eu gostava dele, de verdade. Daquele jeito de gostar do amiguinho do jardim de infância, o coleguinha que você adora e não consegue se sentar longe na aula, pede à sua mãe pra te deixar passar o fim de semana na casa dele e mesmo que quebre o seu melhor brinquedo é só o garoto abrir um sorriso que você não tá nem ligando mais...
Enfim, voltando à nossa estória: Ontem tivemos uma conversa. Bem franca. Um tanto curta, mas boa conversa. O que ele disse foi crucial: "tenho outras pessoas".

Mediante isso, não havia mais nada a ser feito...

Fiquei com essa expressão martelando na minha cabeça a noite toda. Pensei muito e me lembrei de uma amiga, que uma vez me apresentou seu melhor amigo, uma cara lindo e gente boa, engraçado, o tipo de cara perfeito. Daí perguntei a ela: "como você fica sendo melhor amiga de um cara assim, tá doida?! A gente não fica amiga de caras maravilhosos como esse, a gente namora eles! Então, para minha surpresa, ela me respondeu: "Todas as namoradas deles passaram. Eu fico e vou tê-lo ao meu lado sempre, porque somos amigos". Na hora, fiquei olhando pra ela, com cara de boba. Só agora entendo o que minha sábia amiga quis dizer e concordo.

Completo ainda dizendo: eu não posso ter tudo o que eu quero de você Mr. Z, mas acho que já tenho muito, e coisas boas. Hoje sei o cara legal que você é, seus valores, o cuidado que tem comigo... Arrisco até a dizer que gosta de mim pra caramba...
Pra tudo ficar bem e a gente ler aquela frase no final do livro: " E foram felizes para sempre" só falta eu parar de desejar o que não posso ter de ti, cada dia de uma vez. Hoje eu desejo menos que ontem e amanhã vou desejar menos que hoje. Até não desejar mais...
Um beijo.


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