Oi, estranho...







Moreno,

Era só mais um forró, como tantos outros que já fui, mas deste vou me lembrar pra sempre.
Nunca vou esquecer daquela noite encantada em que te conheci.

Você se destacava no ambiente de uma maneira absurda, sabia?! E muito além do simples fato de ser mais alto que a maioria dos homens que estavam lá, eu não pude tirar os olhos de você pela forma como se movia, a suavidade dos movimentos, pela expressão de prazer genuíno em seu rosto enquanto dançava.

Não tive outra escolha senão ir te convidar pra dançar. Ouso dizer que imploraria, se fosse preciso.
Tenho a cena e a sensação ainda viva em minha mente:
Inspirei fundo, tracei uma reta e segui confiante na sua direção. O que eu não podia imaginar é que você estenderia a mão convidando a moça à sua frente para dançar. Numa fração de segundo mudei minha rota para a esquerda e segui para o banheiro. Bochechas vermelhas, coração disparado, respiração entrecortada. Você não percebeu nada, mas tive a impressão de que ela viu e entendeu tudo.
Passei rápido pelo banheiro, depois de fazer um carinho no gato que mora lá. Haviam me dito que tal gesto dá sorte e não me custava nada arriscar. Voltei para o salão, para junto das minhas amigas, mas ainda sem conseguir tirar os olhos de você.

Não sei se foi por eu estar te observando tanto ou se a moça lhe disse algo, mas depois de um tempo você veio, parou razoavelmente perto e ficou me olhando. Começou a tocar um xote e você puxou uma corda imaginária que me levava até seus braços... É claro que eu fui.

Nervosa, lhe dei a mão direita e me encaixei no teu abraço. O seu cheiro era tão bom, de uma maneira tão escandalosamente deliciosa que quase chegava a ser indecente. Devia ser proibido sair de casa despertando os desejos mais primitivos das pessoas, viu?! Entorpecida, fechei os olhos (como de costume) e me deixei conduzir. Nossos pés mal saíam do lugar, ao passo que seu corpo e o meu se moviam em perfeita sincronia, como se já se entendessem há muito tempo.


Perdi a noção de tudo. Nem sei dizer por quanto tempo dançamos até quando ouvi os primeiros acordes de "A Natureza das Coisas". Uma atmosfera mágica se estendia por todo o lugar e foi nesse momento que, sem trocar sequer uma palavra, nos beijamos. Tive a sensação de que só estávamos nós dois ali. Nada mais existia além de eu e você. E a letra da música me dizia que "a burrinha da felicidade nunca se atrasa"


Ao fim da canção, ainda dançando, olhei nos teus olhos e disse: "Oi, estranho". Você abriu aquele seu sorriso lindo e se apresentou, com seu nome de anjo. A ironia não podia ser maior. Uma tentação tão grande, com nome de anjo... Ali eu tive certeza de que eu não sairia dessa impune.
Durante o resto da noite nós conversamos, rimos, dançamos, nos beijamos e era tudo tão fácil, tão leve que mal dava pra acreditar. O mais engraçado é que você sequer pediu meu telefone, apenas se despediu de mim com um displicente "eu te acho".


De fato, não muito tempo depois você me achou. Numa tarde qualquer, em meio a muito trabalho, atendendo ao telefone e ouvi: "Oi estranha". Surpresa, sorri involuntariamente e me esforcei muito pra não parecer uma idiota durante a conversa. Acho que consegui, porque você disse que queria me ver de novo.

Quando desliguei, soube que a burrinha da felicidade finalmente tinha chegado.



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