Polaroid - Amor Instantâneo
Se eu fechar os olhos por um instante, ainda consigo te ver, com aquele teu riso safado olhando pra mim. Às vezes eu faço isso, sabe?! Me envolvo na escuridão voluntária e deixo as imagens virem. Faço de conta que estou contigo, revivendo cada momento, como em flashbacks.
Primeiro, nós dançamos ao som de "Evidências", eu ainda meio descrente. Depois, você se aproxima para sentir o cheiro da minha respiração e fico nervosa com a proximidade da sua boca. Então nos beijamos... Me lembro tão bem que chego a me arrepiar de novo, com a sensação. Te chamo de anjo, você cantarola "se você vê estrelas demais". Caminhamos juntos, de mãos dadas, na primeira manhã do ano.
Aí eu pulo os dias que nos separaram e vou logo para a noite da sua volta. Uma leve taquicardia me embala no caminho que até a festa. Li e reli sua mensagem no celular mil vezes: "quero você, cadê?". Saudade, expectativa, desejo, ansiedade... Tudo tão misturado aqui dentro, parece que vou desmaiar ou explodir. Mas o mundo parou quando coloquei os olhos em você outra vez. E tantos beijos, abraços, risos e olhares... Não quero parecer uma boba alegre, tento disfarçar um pouco, até que você diz "eu tô bobo". Ai, que alívio! Você também. Pergunta se eu serei só sua. Eu respondo que sim, sem mentir, pois não quero mais ninguém além de você.
Tem algumas partes que eu gosto de reviver em slow motion, sabe? Pra demorar mais a passar. Como quando estamos no quarto da sua casa de vila, iluminados apenas por aquela luz vermelha, que fica perto da janela. Uma atmosfera de paz me envolve com o teu abraço. Como mágica, estamos os dois confortáveis na cama estreita. Sinto o cheiro bom da sua barba, toco de leve os pelos do seu peito com meus dedos, pra lá e pra cá, no mesmo ritmo que você desliza carinhosamente a mão esquerda pelo meu braço. Penso que o mundo podia parar agora, nesse átimo de tempo em que nada de ruim pode me acontecer. Em um universo paralelo, estamos juntos de novo. E você está tão apaixonado quanto eu.
Só que na vida real isso ficou para trás. Nossas noites de troca e entrega, tão profundas como jamais tive maturidade para ter nessa vida, são agora boas lembranças. Aquelas conversas malucas que só com você eu tinha. As ideias para o meu livro, que eu fico sempre dizendo que vou escrever. Os seus sonhos compartilhados e o caminho para chegar até eles. Nossas frustrações, comparações, entendimentos... Você me aparecendo no quarto às 3 da manhã com uma michelada, ou o lençol todo manchado de vinho. Gelo. Isqueiro. Nada disso foi suficiente. Nem pra você, nem pra mim. "Nossa cama", você disse tantas vezes. Disse também que nenhuma outra mulher do mundo, nem que aparecesse nua na sua frente, conseguiria despertar mais o teu desejo do que eu, quando conversávamos naquele nível de compreensão mútua.
Eu te admirava tanto! Seu discurso maduro e inteligente. Doce, digno, obstinado... Tão seguro de si e confuso, claro. Por mim, passaríamos horas e horas falando sobre a vida de artista, nosso passado de luta, nossas conquistas, fracassos, vivências e um monte de besteira. Eu olhava para você, meu amor... E via um homem com a pureza de um menino. Ferido, traumatizado, endurecido e com medo. Mas um garoto que quer vencer, quer fazer o certo. Com a malandragem de quem sabe como fazer. Cheio de talento. É uma pena que essa admiração toda não seja suficiente também.
O mais lamentável mesmo é que não há nada que eu possa fazer. Porque eu sou muito boazinha. Até demais, pra ser verdade, né? É triste que o fato de eu gostar tanto de você, me dar bem com seus amigos, ser uma companhia tão agradável, ser inteligente, articulada, independente e guerreira, como você mesmo diz... Mas nada disso adianta. Porque você não teve medo de me perder. O que significa que nunca esteve apaixonado, como me explicou. Muito pelo contrário, você preferiu o afastamento. Para me proteger de um sofrimento maior, conforme disse no seu discurso tão honrado.
De que importa isso tudo agora? Nada. Absolutamente nada. São memórias que vão se tornar imagens envelhecidas. Até se apagarem totalmente, como uma polaroid antiga, de um momento feliz.
Você me fez chorar...
ResponderExcluirÉ o que acontece quando a gente escreve chorando, sabe...
ResponderExcluirFico contente que tenha conseguido transpor a emoção para o texto.
Mas desculpe se a entristeci, viu?M
Também chorei, realmente é uma história incrível, que deve ser lembrada com o melhor das sensações e sentimentos de tê-la vivido ... Tem gente no mundo, e aliás um universo abundante de pessoas pobres que nunca viverão ou entenderão de fato a profundidade do que vc viveu, ou quiçá a dureza da escolha altruísta de deixar livre um amor que não se quer prender ou ver sofrer.
ResponderExcluirAcho que seria mais simples dissimular, manipular ou mentir pra não perder, como a maioria tb faz.
Mas vejo algo de nobre, das decisões, dos sentimentos, até no aperto no coração. Nada na vida passa sem que deixe seu agente transformador e por mais que não consigamos enxergar a luz através da escuridão ou da turvação momentânea, algo de novo sempre brotará trazendo a recompensa de se ter vivido, e por isso poder perceber os caminhos que separam as coisas boas das coisas ruins!!! Viver nunca é demais ... Só que infelizmente a vida não é uma coleção de finais felizes!!! Estou aqui, não morri e nem estou longe!!! Bjo