Dueto de três ou mais...
Foto: Samyta Nunes |
A sensação era familiar, mas sua intensidade não. Parecida com os orgasmos que ela teve há poucos minutos, fortes demais. Um vazio cheio de tristeza e profundo desânimo. Levou o cigarro à boca e tragou como quem suga um balão de oxigênio, lutando pela vida. Observou a brasa queimar, lembrando a maneira que seu corpo entrou em combustão ao tocar o dele. Fantasmas de fumaça dançaram à sua frente, espectros de energia se dissipando junto à esperança que teve nos últimos três dias. Tinha quebrado a cara mais uma vez.
Colou os cinco dedos no pescoço da garrafa de cerveja e trouxe à boca, repetindo prévio gesto da noite. Um flash de prazer reverberou por sua coluna vertebral com tremor. Como pôde se enganar tanto? Era amor. Paixão avassaladora, dessas que não existem mais… Literatura.
Helena olhou o teto vendo nada, repassando imagens entrecortadas na memória, com cheiro e som. Ouvia um blues melancólico em sua cabeça, e o sangue ainda desacelerava nas veias. Havia trepado loucamente, e aquele choro de menino desamparado ecoava ao pé de seu ouvido esquerdo até agora. Será que imaginei tudo? Era amor. Naquele átimo de segundo, foi. Qual o problema?
Um alerta pipoca no celular e desvia sua atenção. Mensagem dele.
“Caraca, tava tocando ‘perigo’ aqui no carro agora… Há muito tempo eu não ouvia essa musica”.
"Taí a prova", ela pensa. Mais uma coincidência. Mas tá tudo errado. De novo.
Melhor saber logo.. Não existe isso de romance, para. Toda vez é isso. Helena confunde sexo com amor e diz adeus ao ex-futuro homem da sua vida. Resignada.
Pensar que dessa vez o caso já estava perdido desde o inicio, ajuda. Alivia. Nada de Maktub, não estava escrito. Ele voltou para casa. A essa hora já entrou debaixo da coberta, se encaixou na curva dela e dorme agora como um anjo. Apaixonados, marido e mulher.
Leva a garrafa e o maço de lucky strike para a cama. “Esse ménage, sim”, comenta com ninguém. Põe a trilha daquele filme da Norah Jones com o Jude Law pra tocar e fica ali deitada, se sentindo idiota por muito tempo. Deveria dormir, porque vai acordar às cinco e meia. Mas não consegue, ainda sente a euforia. Descansa as pálpebras e devaneia, se entrega ao torpor da lembrança sensorial. Os braços enlaçados, pélvis atraídas como ímãs, num balanço bem compassado, o pertencer. Como dois animais… Outra letra de música. Foi mistério e segredo. E muito mais. Foi divino brinquedo, e muito mais.
"Não era amor… Não era. Não era amo, era..."
Achava que não cairia mais em ciladas como essa. Mas se enganou. E queria se esganar, se engasgar com o próprio veneno letal que carrega na cauda. Tudo que sentiu teria sido real ou não? Foi fantasia de uma mente criada com Disney? Foi um fenômeno da natureza, magia negra, alucinação, esquizofrenia?
Orgasmos brancos.
Nossa, como a gente encaixa gostoso aqui.
E agora, Helena? Essa guerra é sua, não de troia. Vai fugir e viver, ou ficar e morrer?
Vem morte, sê bem-vinda! Helena assim o quer e não é dia ainda.
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