Playdate: subst.: (do inglês) compromisso arranjado para que crianças se reúnam pra brincar
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Ilustração: Rebecca Dautremer |
Saiu da estação de metrô com sorriso de esfinge e olhos de menino, me abraçou com delicadeza. Gostei do seu cheiro, que não me lembrava de ter sentido na noite em que nos conhecemos. Eu não sabia muito bem o que dizer e como agir, pois muito havia sido dito na nossa conversa há uma hora antes. O silêncio breve não se mostrou incômodo, porém. Tomei isso como um bom sinal. Me perguntou onde iríamos, ao que respondi "não sei, vamos só andar por aí" - era o que me parecia mais natural. Não muitos passos depois, segurou minha mão. Um gesto tão singelo e óbvio... Mas fiquei surpresa. Andando contigo de mãos dadas por Copacabana, fui voltando a ser a garota de anos atrás. Aquela despreocupada e um tanto bobinha, que fazia testes da revista capricho, dançava as coreografias das Spice Girls na frente do espelho e guardava dentro de si um monte de sonhos malucos.
Engraçado como agora não me lembro quase nada do que conversamos. Digo quase nada porque de uma coisa me lembro bem: a sua "teoria da mão". Você teve de explicar umas duas ou três vezes, com toda paciência e brilho nos olhos; fiquei fascinada quando entendi, porque ali eu confirmei minha suspeita de que havia algo muito maior na nossa ligação. Era uma troca de conhecimento, um reconhecimento de dois dedos que fazem parte dessa mão.
Já estávamos sentados naquele canto de mesa do canto, um de frente pro outro, entretidos no fervor da conversa quando começou a acontecer. De repente me distraí olhando pra sua pinta, que fica um pouco acima e à direita da sua boca. Me pareceu uma displicência da criação, deixar aquilo ali. Senti vontade de tocá-lá, mas seria quase uma invasão do seu espaço, já que até então o nosso contato estava restrito no âmbito das mãos. Eu estava nesse dilema entre a tentação e a resiliência quando você parou de falar e ficou me olhando daquele jeito, como quem vê através dos meus olhos e para além dos meus pensamentos. Ao mesmo tempo que me sentia nua em sua frente, algo me impelia a sustentar o olhar, como no jogo do quem pisca primeiro.
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(Ilustração: Rebecca Dautremer) |
Não sei por quanto tempo continuamos essa coisa da conversa permeada pelos olhares silenciosos e risonhos... Lembrando agora, parece uma eternidade. Aos poucos fomos nos aproximando e à medida que o desejo ia crescendo dentro de mim (e de você, acredito) o espaço entre nós ia diminuindo; então você colocou carinhosamente uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, alternando o olhar entre minha boca e meus olhos. Instintivamente deitei o rosto na sua mão, como um gato pedindo mais afago. Você se inclinou e encostou de leve a cabeça no meu ombro... Estávamos meio abraçados e meio apoiados um no outro. Pensei que eu poderia ficar assim por muito tempo, não fosse a perturbadora ânsia de te beijar que me assolava. Teria tomado eu mesma a iniciativa, do alto da minha maturidade e independência de uma mulher de 28 anos. Mas quem estava ali era a adolescente e ela não tinha certeza de como agir, achou melhor esperar. O beijo acabou acontecendo tão naturalmente quanto tudo tinha sido até o momento, forte e suave ao mesmo tempo. Delicado e quente. Tenho comigo ainda agora a sensação paradoxal que me causou...
Entre chopps, risos, beijos e teorias, me diverti muito com você,
naive boy. Misturando o inglês com português, voltando no tempo, descobrindo a leveza de ser natural e despreocupada.
Eu sabia que não duraria muito, mas resolvi que aproveitaria todas as chances de me sentir assim de novo, enquanto pudesse.
Gostei muito do que vi !
ResponderExcluirMuito difícil encontrar espaços bacanas como este :_)
Deixo o meu aqui caso queira dar uma olhada, seguir...
http://bolgdoano.blogspot.com.br/
Espero que goste !
Agradeço desde já !