A Cigarra e a Comida

Há muito tempo evito falar sobre isso. 
Mesmo quando me perguntam, evito, porque sei que é polêmico e acabo me aborrecendo. 
Mas é que o que aconteceu ontem foi tão esdrúxulo que não dá pra ignorar. Deu vontade de escrever.

Tá, eu fico com pena deles...
O que acontece é que eu não gosto de comer carne, nunca gostei. 
Me lembro que desde muito pequenininha, eu achava o gosto de bife estranho, uma textura horrível. Aquilo sempre virava uma espécie nojenta de chiclete na minha boca e eu não conseguia engolir, deixava no canto do prato. E como criança não tem vontade própria, está em fase de crescimento etc; comi carne vermelha até quando minha mãe me obrigou, aos 10 anos de idade.  Depois, mais velha, li um livro que me esclareceu outras questões e então parei de consumir qualquer tipo bicho, seja pequeno ou grande, do mar ou da terra.

Não, não sou dessas que amam loucamente os animas e buscam sempre estar em contato com eles. Tenho lá minha paixão por cachorros e gatinhos fofos, gosto dos peixes e tenho simpatia por passarinhos. Mas de cavalos, bois, vacas e o resto todo, quero mesmo é distância. Quero que fiquem felizes lá onde vivem e acho uma maldade colocarem os pobrezinhos em zoológico. Porém, também não vejo diferença entre eles. São todos bichos e me parece uma maluquice comer uns e amar outros.


Já fui questionada, julgada, rejeitada e sofri preconceito por causa disso. Houve uma época em que eu não conseguia sequer almoçar no refeitório da livraria onde trabalhava porque algumas pessoas se divertiam falando sobre picanha sangrando e como matar um porco com punhalada no coração ou martelada na cabeça, enquanto eu comia. Diariamente. Já ouvi incontáveis vezes piadinhas de mal gosto sobre vegetarianos e, pasmem, um cara me disse uma vez que não namoraria comigo porque seria estranho comer um bife enquanto eu só como alface (a idiotice humana me assusta). A verdade é que a gente acaba se acostumando. Me revoltei algumas vezes, mas hoje em dia nem levo mais em consideração.
Cadê o respeito à escolha alheia?

Mas aí ontem, eu e uma amiga também vegetariana fomos comer um sanduíche no Subway, em Ipanema.
Nada demais, a gente faz isso sempre, mesmo tendo uma só opção do cardápio: o vegetariano. Inacreditável foi a cara de estranhamento da atendente e o que ela disse: "Mas hoje não é dia de comer nada vegetariano! Isso não vai matar a fome de vocês". Eu e minha amiga nos olhamos e rimos, pasmas, mas levamos na brincadeira, comentando que a gente sempre come esse sanduíche e que temos pena do pobre do porquinho e da vaca. No que a garota seguiu: "Ai, credo, que horror!" E durante toda a montagem do lanche ficou resmungando coisas absolutamente desnecessárias sobre a salada, sobre a nossa escolha, corroborada por outras duas colegas que vieram com aquela historinha do "se eu tivesse no meio da mata o leão ia me comer" e tal.
Ok, excluindo a parte de que sofremos bullying deliberadamente na compra de um produto pelo qual estávamos PAGANDO, nada demais. 

Acontece que uma cigarra enorme cismou de entrar na lanchonete, dando vôos rasantes e tocando o terror tanto nos clientes quanto nos funcionários do Subway. Grita daqui, se abaixa dali, a cigarra - desnorteada - acabou por cair na calçada, próximo à mesa onde estávamos eu e minha amiga. Eis que vem um cidadão com um pedaço de pau, pronto a assassinar a bichinha (que já tava mais pra lá do que pra cá, na verdade) e para nossa total e absoluta supresa a tal garota carnívora que tinha nos atendido, intercede pela cigarra, aos berros:  
"Não, moço, não mata ela não!!!"
A "aterrorizante" cigarra. Ou uma prima dela.




Oi???????????????
Em uníssono, perguntamos: "Como assim? Você tem pena da cigarra, mas dos bois, porcos, galinhas e peixes, não?". A guria não teve resposta. Mas aposto que os mais engraçadinhos diriam: "ah, mas a cigarra não é pra comer", mesmo eu não vendo diferença nenhuma entre comer uma cigarra e comer um camarão... 
Enfim, o caso é que a coisa toda foi tão surreal e sem nexo que não dava pra deixar passar em brancas nuvens.

Quanto a mim e minha amiga, pegamos a cigarra agonizante (ela, que é corajosa, pegou) e a colocamos no tronco de uma árvore, a fim de que se recuperasse ou ao menos pudesse morrer em paz. Depois seguimos para casa. 

Se quiser saber mais sobre o veg(etari)anismo:
http://vista-se.com.br/redesocial/
http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/
http://www.sejavegetariano.com.br/http://www.svb.org.br/vegetarianismo/






 







Comentários

Postagens mais visitadas