A Carta da Torre

Sempre ouvi dizer que há momentos na vida das pessoas em que o chão é tirado de debaixo dos seus pés. Muitas vezes já me senti perdida, desamparada, sem rumo, impotente. Mas essa sensação de que "a casa caiu" é novidade. O mais irônico é que eu desejei isso. Não agora, desse jeito, mas desejei,
Há 13 anos que faço parte da grande parcela de proletariado deste país. Jornada dupla, sabe? De dia "Clark Kent", à noite e nos fins de semana, "Super Man". Se é que meu lado artístico pode ser chamado de "super". Já estava cansada dessa "prostituição", de me desdobrar em duas. Sem paciência e ansiosa para me desfazer da identidade secreta, tinha planos de deixar de ser recepcionista até o fim do ano.
Mas eis que numa sexta-feira (que não era 13, mas poderia ser...rs) fui demitida. Pela primeira vez, não pedi demissão por ter conseguido um trabalho melhor, mas fui dispensada... Simples assim. 
E aí começa o turbilhão: futuro incerto, sensação de estar suspensa no ar, sem saber o que fazer. E agora?
As pessoas perguntam como estou, mas nem isso sei responder com exatidão. Que sentimento é esse? Surpresa, medo, agonia, alívio, incerteza, angústia, liberdade??? 

A dúvida mais cruel da vida. Há dois caminhos à minha frente e não faço a menor ideia de qual devo seguir. Minha vontade, eu sei. Mas será esse o melhor caminho? E se ele não der em lugar nenhum, o que eu faço?! 

O que mais me assusta é que a decisão que for tomada agora pode mudar minha vida para sempre. E isso é algo grande demais, perigoso demais, arriscado, difícil, medonho. Parece que estou dentro daquele filme: "Efeito Borboleta", mas sem o tal diário que me permite voltar atrás e mudar tudo. Mais do que nunca, o tempo se transmuta em ouro e tem aquela habilidade cretina de passar mais rápido do que posso imaginar.
Repito para minha mãe e os amigos o que eu mesma quero acreditar: "tudo acontece quando tem que acontecer", "quando Deus fecha uma porta, abre uma janela", "vai dar tudo certo", "vou ficar melhor do que estava". Mantras nos quais me agarro com todas as forças para não cair junto com a torre. Preciso ser forte, aliás, sou forte... Sempre fui. Será?

Tenho 28 anos, nenhum bem material, pouco dinheiro, muitos projetos e sonhos, amigos mais do que suficiente, saudade pra dar e vender, tenho saúde - graças a Deus, a solteirice que não me abandona, sem perspectivas de filho (ainda bem, porque senão seria muito pior) e uma vontade louca de viver da minha arte. Algo precisa ser feito, mas como?!


Uma amiga sempre me diz: "quando não tiver certeza, não faça nada". Mas e quando esse nada é justamente o que você não pode fazer?
Seja lá o que for, vai ser depois do carnaval. 
Uma pausa é tudo o que eu preciso agora.

"Ora bolas, não me amole
com esse papo de emprego
me dá um tempo, não estou nessa
o que eu quero é sossego..."
Tim Maia

Comentários

  1. O futuro é sempre melhor, já repeti várias vezes e continuo repetindo. Parafraseando você mesmo... tu ainda tem muito o que viver!

    Um beijo!

    R.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Olá,

Comentários são muito bem-vindos!
Passarão pela minha moderação, claro.
Porém, se for comentar como anônimo e espera que eu responda, coloque um nome, ok?!

Beijoss

Postagens mais visitadas